terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

O poder das palavras...



Dizia eu estes dias sobre o poder da palavra... que bastava um "Oi" para que um dia todo fosse transformado...


E fiquei remoendo isso... pensando no tanto de verdade que existe nessa afirmação... e procurei referências mentais a isso... logo de cara Cecília Meirelles me "soprou" a seguinte:




Romance LIII ou Das palavras aéreas


"Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
Sois de vento, ides no vento,
No vento que não retorna,
E, em tão rápida existência,
Tudo se forma e transforma!

Sois de vento, ides no vento,
E quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
Principia à vossa porta;
O mel do amor cristaliza
Seu perfume em vossa rosa;
Sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota...

A liberdade das almas.
Ai! Com letras se elabora...

E dos venenos humanos
Sois a mais fina retorta:
Frágil, frágil como o vidro
E mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
Pelo vosso impulso rodam...

(...)

Detrás de grossas paredes,
De leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda
Sem peso de ação nem de hora...
_ e estás no bico das penas,
_ e estais na tinta que se molha,
_ e estais nas mãos dos juízes,
_ e sois o ferro que arrocha,
_ e sois barco para o exílio,
_ e sois Moçambique e Angola!

(...)

Ai, palavras, ai, palavras,
Mirai-vos: que sois agora?

(...)

Ai, palavras, ai, palavras,
Que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro de aragem...
_ sois um homem que se enforca!"






E sim...como se transformam!!! (mas do que eu queria às vezes) Por exemplo, pra mim, pai não é mais uma palavra que se refere a uma pessoa presente, os verbos que anteriormente poderiam ser conjugados nesse sintagma nominal em qualquer tempo, agora me coagem a usar somente no passado, mudança de palavras...




Outra refência que tive, devido ao passado católico exacerbado, é "E o Verbo se fez carne..." e o "Fiat lux!"... Pensem no poder... um verbo que se faz carne.... uma palavra que se transforma em um objeto concreto, assim como na criação do mundo não se precisou de mais nada além de palavras para que tudo fosse criado "Faça se a luz! E a luz foi feita!"... simples assim! A bílbia toda está cheia de demonstrações do poder que elas tem, tantas curas feitas somentes por elas, tantos milagres e tantos pactos feitos... alianças... promessas... Ah! ia me esquecendo... o "Sim!" de Maria e o "Se tiveres fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a essa montanha, planta-te no mar e ela o obedecerá", dentre tantos, tantos outros...


E não são só de exemplos míticos ou religiosos que corroboram essa capacidade dos vocábulos de provocar mudanças internas, externas ou globais.


Exemplo? Guerras...quantas não começaram por palavras... quantas mortes não dependeram de um "FOGO!"? E quantas vidas não foram salvas por tratados de paz entre países?


Qualquer que seja a forma de relacionamento que você tenha com alguém, ela começa e termina com palavras e que preciosa são algumas destas palavras! Os primeiros balbucios de um filho, a primeira leitura em voz alta, o bilhetinho para a amiga falando do menininho bontinho que entrou na sala, as redações, os seminários, a primeira declaração de amor, um "Eu te amo" bem dito, ou escrito, a entrevista pro emprego, o "Sim!" no altar, os sussurros no ao pé do ouvido e toda uma gama imensa de palavras que modificam a vida.


Há também exemplo destrutivos das mesmas, se as anteriores liberam endorfina e relaxam e nos deixam bem, estas, liberam adrenalina e nos deixam mal chegando em extremos de causar doenças psicossomáticas.


Exemplos: "chato!", "eu vou te bater", "não acredito que pôde fazer isso!", " não te amo mais", "rua!", "te odeio!", "eu fiz o que pude, mas...", "morto", "... (silêncio)", "incurável", "adeus" etc...


Não vou me estender nestas últimas porque todos nós já tivemos a infelicidade de ouví-las uma vez na vida ou várias vezes na vida.


Acho que prestamos pouca atenção nas palavras, perdemos esse contato com nossa linguagem, diferentemente do que acontecia antigamente, onde haviam palavras mágicas que numa sinestesia alquímica tranformavam, abriam, selavam, desenvolviam e animizavam. Os judeus em suas crenças mais tradicionais faziam numerologia com seus nomes, anagramas, amuletos, a partir das palavras "previam o destino", se entendiam, liam o mundo...


Hoje as pessoas não falam mais, não lêem mais, não ouvem mais... o mecanicismo tomou conta de tal forma da comunicação que pouco se retém de tudo que é expresso pelas palavras. Programas de televisão repetem centenas de vezes as mesmas palavras querendo convencer da importância do produto X, você até canta junto o "jingle" e não sabe o que canta, os veiculadores das propagandas também não. A análise do discurso é feita, pensa-se muito antes de usar os argumentos, verifica-se público alvo, mas são palavras vazias não significam, são quase pseudo palavras...


Palavras pra aparentar, palavras pra fingir, pra disfarçar, pra ludibriar...


Palavras pra externar, palavras pra sentir, pra comover, pra amar...




Citando mais uma vez a bíblia, que nosso sim seja sim e nosso não seja não....




Dou a minha palavra! Palavra de rei nao volta atrás! Palavras.... pra filosofar em alemão, pra ser sexy em francês, pra ser universal: inglês, pra muita gente falar: chinês, pra melhor nos entendermos, português...




Carpe diem... nihil...




"You think that I don't even mean

A single word I say

It's only words, and words

are all I haveTo take your heart away"

(Bee Gees - Words)




8 comentários:

Anônimo disse...

Io capisco!

Post dos mais inspirado até o momento... (não que os outros não o sejam)!
É fascinante o poder transformador das palavras, como prova e comprova CDA... (http://br.geocities.com/edterranova/drummond90.htm)

Obrigado por alegrar e "culturar" ;o) nosso dia...

Grazie!

P.S.: Anônimo precisa assinar?
P.P.S.: Você não é mandona...

Anônimo disse...

Quanto ao passado católico... Deixo Guerra Junqueira:

PARASITAS

No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

Fernanda Silvestre disse...

Sempre que leio vejo falhas, falta de coesão, polifonias, é sim, complicado ser hiperativa e querer dizer td, acabo por dizer nada..rs
Adorei o CDA principalmente os primeiros versos "a vida é nihil..."
E , minha mania, de buscar no meu eu particionado, posto minhas falas ditas por ele:
"Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida." - Álvaro de Campos

^.^

Anônimo disse...

Todos os jogos de palavras e o Velho Guerra me lembraram Calembur... Ao buscar uma imagem para ilustrar a idéia, achei esta, ótima - ou não...(http://www.geocities.com/elefant.geo/Postcards/Calembur.jpg)

P.S.: ainda falo, leio, ouço... penso?!?

Fernanda Silvestre disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Perfeito!!!

^.^

Fernanda Silvestre disse...

Linguistiamente falado, performatica!

Anônimo disse...

palavras,e masi palavras
coisas q a boca me faltam
palavras,e mais palavras

Anônimo disse...

Linguistiamente falado, performatica???

Uhn? Como assim? Não entendi...

[Post campeão]